segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

5 Perguntas para Márcio Baraldi

O cartunista Márcio Baraldi começou a carreira em 1983 no sindicato dos Químicos do ABC e hoje é um dos mais prolíficos profissionais de sua geração. Continua produzindo charges e cartuns para sindicatos, colabora para diversas revistas – principalmente de rock -, confecciona vídeo-games, publica livros e, recentemente, engrossou as fileiras de quadrinhos nacionais da revista MAD.

O criador de Roko-Loko, Adrina Lina, Tatoo Zinho, Vapt e Vupt e muitos outros personagens responde as 5 Perguntas do Papo de Quadrinho desta semana.

1) Qual das suas paixões veio primeiro, o rock ou o quadrinho? Quando foi que você decidiu juntá-las?
Os quadrinhos, porque eu os descobri muito cedo, com uns três, quatro anos já tava encantado pelos gibis. Aprendi a ler com uns cinco anos de tanto que enchia o saco da minha mãe pra me ensinar a ler os gibis. Quando entrei na escola, com seis anos, já lia perfeitamente e era o melhor aluno da classe. Por ai você vê como o gibi e um ótimo instrumento de alfabetização. Já o rock eu fui entender o que era aos 11 anos, quando ouvi "We Will Rock You", do Queen, no rádio. Esperei o locutor falar o nome da música e sai correndo comprar o compacto de vinil que tinha essa de um lado e "We are the Champions" do outro. Foi meu primeiro disco de rock! Aí, imediatamente passei a desenhar o Queen compulsivamente, lotei cadernos e mais cadernos com histórias do Queen lutando contra aquele robô que tem na capa desse disco, uma puta ilustração do Kelly Freas.
Na seqüência, descobri o KISS e aí ferrou de vez, porque os caras eram puro gibi em cima do palco. Comecei a desenhar o KISS sem parar também. Em 1986, comecei a desenhar para um jornal chamado ROCKER, do ABC paulista, onde eu fazia as capas, ilustrações internas e uma tirinha de um roqueiro meio punk, meio rockabilly chamado Johnny Bastardo. Fiquei lá até o jornal fechar. Anos depois fui pra revista Rock Brigade , onde criei o Roko-Loko, e fui vazando para outras revistas como Roadie Crew, Dynamite e Comando Rock e não parei mais. O Roko-Loko já completou treze anos de publicação ininterrupta. Nada mal, né? E pensar que tudo começou com "We will Rock You" (risos)!...

2) Você tem um trabalho longo e consistente para vários sindicatos. Já aconteceu de você discordar do posicionamento político de algum deles? Como você administra eventuais conflitos entre suas convicções pessoais e a linha seguida por eles?
Nunca tive conflito porque eu sou filho de metalúrgico e praticamente me criei dentro dos sindicatos. Comecei a trabalhar neles aos 15 anos de idade e posso garantir que passei mais tempo dentro deles que da minha casa (risos). Sempre me senti mais à vontade neles que na minha própria casa. Nasci para trabalhar neles. Sou o cara certo no lugar certo, fazendo a coisa certa para e com as pessoas certas. Sou grato a Deus por isso. Não fui um cara que ficou perdido na vida, batendo cabeça por muito tempo, procurando seu lugar. Quando entrei no sindicato, já me liguei que ali era meu lugar forever. Só trabalho pra Sindicatos Cutistas ou de ideologia bem próxima, então eles têm a mesma visão de mundo que eu. Estou afinado com a orquestra.
Mesmo assim, aconteceram coisas engraçadas ao longo da carreira. Sempre tive total liberdade para criar, então teve momentos que eu estive à frente do sindicato. Por exemplo, nos anos 80 eu fiz um cartum no Sindicato dos Químicos do ABC defendendo a descriminalização do aborto e o cartum não foi publicado porque o sindicato não tinha ainda na época uma posição fechada sobre o assunto. E eu saí na frente e por conta própria fui defendendo o aborto (risos)! Algum tempo depois, o sindicato discutiu a questão e acabou publicando o cartum. Eu fiz coisas muito legais na imprensa sindical nesses mais de 20 anos de trabalho. Fiz quadrinhos com assuntos que ninguém mexia na época: contei a historia da escravidão no Brasil, a revolução cubana, as mulheres queimadas no 8 de março, a história da represa Billings, sobre prevenção da Aids, para combater o tabagismo e o alcoolismo, sobre coleta seletiva e reciclagem de lixo... Falava sobre índios, deficientes, gays e lésbicas, idosos, ecologia. Fiz uma série de cartilhas em quadrinhos contando a história da invenção do trabalho e da mais-valia desde a pré-história. Fazia tudo sozinho, eu mesmo escrevia os roteiros, desenhava e finalizava tudo. Pra fazer esses quadrinhos eu vivia lendo um livro atrás do outro: Marx, Engels, Proudhon, Heloneida Studart, Roberto Freire, Freud etc.
Eu era muito inquieto, podia fazer só meu arroz-com-feijão que nem todo mundo e ir mais cedo pra casa, mas eu não curtia ficar em casa então me dedicava ao extremo ao trabalho e ficava inventando coisas sem parar. Para os sindicatos onde eu trabalhava, isso era ótimo pois eu dava muito mais produção do que precisaria dar. O Remigio Todeschini, que hoje esta no Ministério do Trabalho e que, na época, era presidente dos Químicos do ABC, me chamava de "Prata da Casa" porque realmente eu produzia MUITO! Por tudo isso, acabei deixando minha marca na imprensa sindical brasileira, criei personagens bacanas como Caveirinha, Turma dos Químicos, Euriko e Ritalinda, Dr.Cicolo e outros que são publicados há duas décadas sem parar.

3) Como está sendo seu trabalho na MAD brasileira?
Tá ótimo! Sempre li a MAD desde moleque e a considero uma revista histórica, uma verdadeira instituição do humor gráfico mundial. Acho que meu humor tem a cara da revista, então me sinto em casa. Tenho um karma com a revista: nos anos 80, publiquei na "Seção Pretensão", quando era moleque, aí nos anos 90, publiquei um pouco já como profissional e, agora, voltei com a corda toda, produzindo bastante. É muito tranquilo trabalhar com o Raphael Fernandes, atual editor da MAD. Somos camaradas e nos damos muito bem. Ele não precisa nem falar: ele pensa, eu já saco no ar e desenho o que ele pensou!


4) Além da colaboração para várias revistas, você ainda tem seus livros, games, um quadro no programa Banca de Quadrinhos. Como é a vida de workaholic (risos)?
Terrível (risos)!!! Não tenho tempo pra namorar direito, pra dar um rolê, às vezes fico ate três dias sem tomar banho... BRINCADEIRA(risos)!!!! É uma vida muito puxada, um compromisso atrás do outro. É só pra quem aguenta o tranco mesmo, ou pra quem é doido. Mas não me queixo de nada, eu só peco a Deus muita saúde e longa vida pra realizar tudo que eu tenho vontade.

5) Podemos esperar (mais) algum novo projeto do Baraldi para 2009?
Lógico! Em novembro, tem o novo livro do Roko-Loko,"Hey Ho, Lets Go!", com prefácios do Sidney Gusman e do Franco de Rosa. Pra embelezar ainda mais o livro, ganhei uma caricatura minha pelo mestre Getulio Delphin e um Roko-Loko desenhado pelo mestre Mozart Couto. Se tudo der certo, terei comentários no livro de astros internacionais como Tarja Turunen (ex-Nightwish) e Helloween, pois eu sempre desenho o Roko-Loko contracenado com eles. Vamos lançaar o livro no nosso festão tradicional em novembro junto com a segunda edição do Prêmio Bigorna, do qual sou um dos orgulhosos papais. Também estou trabalhando no novo game do Roko, mas este eu não garanto que saia este ano. De qualquer forma, já tem bastante novidade, né? Já ponham na agenda e não percam o festão! Sucesso e saúde a todos! Abraços.

Você encontra mais informações sobre Márcio Baraldi em seu website: http://www.marciobaraldi.com.br/

9 comentários:

Marcio disse...

VALEU,SILVESTRAO!!!!
DUCARVALHOOOOOO!!!!!
ABRACO
MARCIO

Anônimo disse...

Tive o prazer de conhecer o Baraldi em uma das ótimas festas da Mad. É uma figura incrível. Além do talento nato, é um dos caras mais animados das HQ´s. O tchê agita mesmo. Essa energia contagiante dele faz bem para todo mundo, inclusive para o mercado.

Marcio disse...

VALEU,TARSAO!!!!
U-RUUUUUUUUUU!!!

Bira disse...

O Marcio Baraldi é um chapa de longa data. Profundo defensor das causas cartunescas e quadrinhísticas, ainda mais quando tiver um "Br" logo depois. Valeu, MArcião. Pusta entrevista, véio.
Parabéns, Jota Silvestre, eu já era fã de vc quando era moleque e via seu programa "O Céu é o Limite", quem diria, né?
Abraços

Jota Silvestre disse...

Baraldi, tá me tirando, né?

Você não acredita MESMO que eu seja AQUELE Jota Silvestre, né?

Se o J. Silvestre não tivesse morrido em 2000, estaria com 86 anos!

Abração

Anônimo disse...

"Parabéns, Jota Silvestre, eu já era fã de vc quando era moleque e via seu programa "O Céu é o Limite", quem diria, né?
Abraços"

- AHAHAHAHAH, MUITO BOA ESSA!
Dá até uma tira do Baraldi!

Marcio disse...

Naaaoooo! Ce ta confundindo ele!!!Ele e aquele que cantava "YOu make me feeeeeeeeeelllllll...."na epoca da disco-music. Na epoca ele assinava Sylvester!!!

Anônimo disse...

Baraldi é muito loko.
Lembrei que primeira vez que vi um desenho dele foi na revista Dynamite, não sei se ainda existe, era uma revista meio feia mas que tinha mó conteúdo legal. Era o Sabujo Vingador, mó divertidas as histórias. Blz de entrevista. Falow

Marcio disse...

Valeu,man!!!
Em breve o Sabujo vai virar livrooooooo!!!!!!Aguardeeeemmm!
Abracos!