segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

5 Perguntas para Laudo

Laudo Ferreira Júnior, um dos co-autores de História do Brasil em Quadrinhos, começou a carreira de ilustrador em 1983 e já publicou seus trabalhos pelas principais editoras do País. Ao longo dos anos, atuou em publicidade e na criação de cenários e figurinos para diversos espetáculos. Em 1996, abriu o Estúdio Banda Desenhada com seu sócio Omar Viñole, com o qual presta serviços de ilustração profissional e desenvolvimento de personagens.

O ano que acabou foi cheio de atividades para Laudo, uma prova de que com esforço e profissionalismo há bastante mercado para quadrinhistas brasileiros. Este ano, em que sua personagem Tianinha entra na nona série de publicação ininterrupta, não deve ser diferente para Laudo, como você confere nas 5 Perguntas que ele respondeu para o Papo de Quadrinho.

1) Como nasceu a idéia da Tianinha?
A Tianinha nasceu em 2000. Na ocasião, eu já trabalhava com a Editora Rickdan, que publica a revista “Sexy”, como ilustrador. O Licínio Rios, editor da revista na ocasião e tremendo amigo meu, me chamou falando que a editora estava trabalhando no lançamento de uma nova revista, uma versão menor e mais barata da “Sexy”, e que tinham a intenção de fechar cada edição com uma HQ. Sua idéia era que em vez de ter histórias avulsas, cada número teria histórias vividas por uma personagem fixa e me propôs a criação dela, daí veio a Tianinha. Durante todo ano de 2000 fui trabalhando nas histórias da personagem e de seus amigos muito em cima do que a editora me pedia. A coisa era bem profissional mesmo e isso conseqüentemente gerou histórias eróticas da personagem (não chegam a pornô, pois não é a proposta da revista), bem óbvias digamos assim. Com o passar de uns dois anos, a editora foi vendo que os leitores gostavam das histórias da Tianinha e aí, seu espaço foi ficando.
Em 2004, pela Internet, comecei a perceber que havia um bom público fã da loirona e isso se confirmou em 2005 quando lançamos uma edição especial só com HQs da personagem que vendeu muitíssimo bem. Naquele ano, junto com a publicação de quadrinhos “Contos Bizarros” (acho que é esse o nome...) foi à publicação nacional que mais vendeu. Isso é sério mesmo. Para editora, o número igualou-se às vendas normais de uma publicação masculina, mas para quadrinho foi muito bem. Na ocasião, comentei isso com o jornalista Sidney Gusman e ele só reiterou tudo isso. No ano seguinte, foram lançadas mais duas edições especiais que também foram bem nas bancas.
A partir daí comecei a dar outra perspectiva para a personagem e suas histórias. Mesmo mantendo o teor erótico, jogava com outros enredos, outras possibilidades, criando mais um pouco de trama, procurando até mesmo jogar um humor não tão óbvio no gênero e, principalmente, transformar a personagem em algo que o leitor realmente se identifasse, ou seja, a Tianinha é aquela gata loira que todo mundo conhece ou pode cruzar na rua.
Vale contar muita gente já disse que o nome Tianinha foi meio copiado da Tiazinha, o que nada tem a ver. Quem sugeriu esse nome foi o próprio Licínio Rios na ocasião, em 2000, pois disse tratar-se de uma brincadeira que fazia com uma amiga jornalista do meio editorial que não quis me revelar quem era, mas assegurou que eu a conhecia. Infelizmente meu amigo veio a falecer uns dois anos depois, quando inclusive já não trabalhava mais na Editora Rickdan. Não sei o que ele acharia de ver a longevidade da personagem, mas a grande piada que faço é que este “segredo” da origem do nome ele levou para o túmulo. Mas, enfim, assim estamos até hoje. Minha relação com a editora é tranqüila, tenho total liberdade para desenvolver assuntos diversos para as HQs da Tianinha e espero que continuemos assim por um muito tempo. A loira vai agradecer...rs.

2) Você esteve bastante ocupado em 2008, não? História do Brasil em Quadrinhos, Filosofia em Quadrinhos, a continuação de Depois da Meia-Noite... isso sem falar no projeto aprovado pela Secretaria de Cultura, O Mistério da Mula sem Cabeça. Como você dá conta de tantos projetos e ainda toca o estúdio Banda Desenhada?
Muita coisa mesmo...rs. Fora umas HQs curtas que andei produzindo para revistas mix como “Boca do Inferno.com”, “Café Espacial”, “Quadrinópole”, “Hangar”, além de mensalmente produzir a série da Tianinha ... Trabalho a beça!...rs...
Na verdade, alguns trabalhos, como os lançados pela Escala Educacional no final do ano passado, foram produzidos ao longo de 2007 e ficaram um bom tempo em produção editorial. O resto é muita disposição e vontade de fazer quadrinhos. Aí eu ajusto ao ritmo diário de trabalho do meu estúdio e claro, há também o Omar, meu sócio e parceiro nas HQs. São raros os trabalhos que não fazemos juntos. Isso ajuda muito. Mas como disse, é muito trabalho, quem pensa que vida de desenhista é moleza se engana. O negócio é sentar na prancheta e produzir. Não acredito muito nesse negócio de “inspiração” sou mais da coisa da “transpiração”.

3) Então é possível viver de quadrinhos no Brasil?
Ainda não. Mas já dá para ganhar alguma coisa, dentro do que o mercado oferece. Cabe ao bom profissional saber lidar com as editoras. Não basta ter só talento, ser “gênio do traço”. É preciso ter postura, confiabilidade, saber muitíssimo bem o que está fazendo e para quem se está fazendo. Isso somado a mais algumas coisas, facilita muito seu trânsito no mercado. Esses itens valem tanto para o quesito profissional, quanto para o autoral, o artístico. As duas coisas, ao meu ver têm que estar juntas.

4) Qual sua avaliação geral dos quadrinhos brasileiros de super-heróis? Há algum personagem com que você gostaria de trabalhar profissionalmente?
Acho difícil falar sobre isso, pois não é uma área de meu total interesse. Não transito por aí, embora conheça vários autores, roteiristas e desenhistas que trabalhem com esse gênero. Porém, mesmo não sendo minha “especialidade” e nem meu gênero predileto, respeito e acho que cada um faz o que bem entender. Porém o importante (e isso lógico não se aplica só ao gênero “heróis”) é que se procure criar personagens, heróis ou não, enredos, enfim, sem a intenção de “fazer o meu”, tipo: “vou criar o meu Batman... vou criar o meu Wolverine”, pois aí não tem graça, o leitor que curte o gênero quer ler O Batman, O Wolverine, compreende? Acredito que exista uma infinidade de possibilidades de se criar heróis e sem a sombra da linha americana. É quase impossível hoje em dia se criar algo novo, original, mas se o cara for fiel a seus princípios e procurar ser um “criador” e não um “leitor”, aí já se pode ter algo.
Falando em termos de produção, para breve devo desenhar uma HQ para a revista “Tempestade Cerebral” com roteiro do Alex Mir, seu editor, com sua personagem Força Mística, que é, de certa forma, uma heroína. Ando até curioso para ver como irá sair isso. Mas falando em termos de personagens que aí estão também, nunca pensei nisso, acredite. Há uma boa quantidade de heróis que eu curto, tipo Batman, que é um tremendo personagem, Sonja, a guerreira, pois curto essa linha de visual antigo e, é claro, fêmeas sensuais... mas nunca cheguei a pensar nisso.

5) Em quais projetos você estará envolvido em 2009?
Se as coisas realmente acontecerem como se está prevendo... Para meados desse ano, deverá sair pela Via Lettera o álbum “Esta noite encarnarei em teu cadáver”, adaptação do filme homônimo do cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Esse trabalho foi feito em 1996 e foi o início de minha parceria com o arte-finalista e sócio do estúdio, o Omar. Pela Editora HQM deverá sair esse ano, “Yeshuah-assim em cima assim em baixo”, o primeiro volume de uma série de três partes em que conto a vida de Jesus dentro de um visão pessoal. É um trabalho que muita gente tá esperando, ja tem muita gente malhando também... mesmo sem ler ainda...rs...
Há o trabalho com roteiro do Alex Mir, “O mistério da mula sem cabeça” que foi selecionado pela Secretaria da Cultura e no qual já estou trabalhando em seus desenhos.
Pelo Quadro Imaginário, estou preparando uma edição com sketchs e pin-ups da Tianinha, além do roteiro de uma quarta edição de “Depois da Meia-Noite”, que desta vez será desenhada pelo Alexandre Santos, autor da capa do número 3. Fora às séries da loirona que produzo todos os meses.
Bastante coisa!!! Mas, na verdade, uma parte já estava pronta há tempos, como o caso do “Yeshuah” e a do Zé do Caixão, que eu estava na batalha há muito tempo para publicação. Se tudo se concretizar, se for lançado, será um ano que poderei trazer muitas histórias para rapaziada antes de qualquer outra coisa, se divertir muito!

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